Thursday, August 21, 2008

Convenções para apresentação de trabalhos acadêmicos

Cid Ottoni Bylaardt

Os trabalhos deverão vir antecedidos de título, autor(es), disciplina e turma.

Originais

Apresentação. Os trabalhos devem ser entregues impressos, o texto em Word for WINDOWS, versão 6.0 ou mais recente, corpo 12, fonte Times New Roman, espaçamento 1,5. Página A4, margens 3, 3, 3, 3.

Estrutura. Obedecer à seguinte seqüência: Título; Autor; Disciplina; Turma; Texto; Referências bibliográficas (somente obras citadas no texto).

Qualquer menção ou citação de autor ou obra no corpo do texto, remetendo às referências, deve aparecer com o ano de publicação, inclusive as epígrafes.

Usar negrito para ênfase e itálico para palavras em língua estrangeira. Títulos de obras devem aparecer em itálico, letra maiúscula apenas no início da primeira palavra (ex: Flores da escrivaninha), e capítulos, contos, ou partes de uma obra devem ser apresentados entre aspas (ex: “O homem que sabia javanês”).

Referências bibliográficas. Devem ser dispostas em ordem alfabética pelo último sobrenome do primeiro autor e seguir a NBR 6023 da ABNT.


. Livro

SILVA, I. A. Figurativização e metamorfose: o mito de Narciso. São Paulo: Ed. UNESP, 1995.

. Capítulo de livro

MANN, T. A morte em Veneza. In: CARPEAUX, O. M. (Org.) Novelas alemãs. São Paulo: Cultrix, 1963. p.113-9.

. Dissertação e tese

PASCOLATI, S. A. V. Faces de Antígona: leituras e (re)escrituras do mito. 2005. Tese (Doutorado) – Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2005.

. Artigo de periódico

GOBBI, M. V. Z. Relações entre ficção e história: uma breve revisão teórica. Itinerários, Araraquara, n. 22, p. 37-57, 2004.

. Artigo de jornal

GRINBAUM, R. Crise no país divide opinião de bancos. Folha de São Paulo, São Paulo, 27 mar. 2001. Dinheiro, p.3.

. Trabalho publicado em anais

PINTO, M. C. Q. de M. Apollinaire: permanência e transformação. In: XI ENCONTRO NACIONAL DA ANPOLL, 1996, João Pessoa. Anais... João Pessoa: ANPOLL, 1966. p. 216-18.

. Publicação On-line – INTERNET

TAVES, R. F. Ministério corta pagamento de 46,5 mil professores. O Globo, Rio de Janeiro, 19 maio 1998. Disponível em http://www.oglobo.com.br/. Acesso em 19 maio 1998.

Citação no texto. O autor deve ser citado entre parênteses pelo sobrenome, separado por vírgula da data de publicação (CANDIDO, 1999). Se o nome do autor estiver citado no texto, indica-se apenas a data entre parênteses: Candido (1999) assinala... Quando for necessário especificar página(s), esta(s) deverá(ão) seguir a data, separada(s) por vírgula e precedida(s) de p. (CANDIDO, 1999, p.543). As citações de diversas obras de um mesmo autor, publicadas no mesmo ano, devem ser discriminadas por letras minúsculas após a data, sem espacejamento (CANDIDO, 1999a) (CANDIDO, 1999b). Quando a obra tiver até três autores, indicam-se todos eles, separando os sobrenomes por ponto e vírgula (LEENHARDT; PESAVENTO, 1998), e quando tiver mais de três, indica-se o primeiro seguido de et al. (GILLE et al., 1960).

Citações de até 3 linhas vêm entre aspas, seguidas do nome do autor, data e página. Com mais de 3 linhas, vêm com recuo de 4 cm na margem esquerda, corpo menor (fonte11) e sem aspas, também seguidas do nome do autor, data e página. As citações em língua estrangeira devem vir em itálico.

· Citação direta com mais de três linhas

Paul Valéry (1991, p. 208) concorda com a definição de Mallarmé, mas lhe faz uma ressalva:

[...] esses discursos tão diferentes dos discursos comuns, os versos, extravagantemente ordenados, que não atendem a qualquer necessidade, a não ser às necessidades que devem ser criadas por eles mesmos; que sempre falam apenas de coisas ausentes, ou de coisas profunda e secretamente sentidas; estranhos discursos, que parecem feitos por outro personagem que não aquele que os diz, e dirige-se a outro que não aquele que os escuta. Em suma, é uma linguagem dentro de uma linguagem.

.· Citação direta com três linhas ou menos

É de Manuel Bandeira (1975, p. 39) o seguinte comentário: “a poesia está nas palavras, se faz com palavras e não com idéias e sentimentos, muito embora, bem entendido, seja pela força do sentimento ou pela tensão do espírito que acodem ao poeta as combinações de palavras onde há carga de poesia”.

· Citação indireta

Tem-se na paródia, como afirma Linda Hutcheon (1985), a manifestação textualizada da auto-referência, do nível metadiscursivo da criação literária.

· Citação de vários autores

Não me estenderei sobre esse assunto, por considerá-lo devidamente discutido pelos marxistas clássicos (MARX, 1983, 1969; LENIN, 1977a; LUXEMBURG, 1978).

· Citação de várias obras do mesmo autor

Há nele uma diversidade de formas de trabalho; mas em geral subsumidas no capital, e não externas a ele e que resistem à sua expansão, consoante desejam certos partidários do campesinato, cujo exemplo maior é Martins (1979, 1980, 1984, 1986).

· Citação de citação

Para Vianna (1986, p. 172 apud SEGATTO, 1995, p. 214-215), “[...] o viés organicista da burocracia estatal e o antiliberalismo da cultura política de 1937, preservado de modo encapuzado na Carta de 1946.”

Notas. Reduzidas ao mínimo e colocadas no pé de página; as remissões para o rodapé devem ser feitas por números, na entrelinha superior.

Anexos e apêndices: Só quando absolutamente necessários.

Tabelas: Numeradas consecutivamente com algarismos arábicos e com títulos.

Figuras: As figuras, mesmo incluídas no texto, devem ser apresentadas à parte em arquivo-imagem, nos formatos: .bmp, .gif, .ipg, .jpg, .cdr, .pcx, ou .tiff.

Friday, May 09, 2008

A Pós-modernidade e a literatura
(Texto escrito por Gustavo Costa, Eli Castro e Cid Bylaardt)


Tópico 1: Que vem a ser "Pós-Modernidade"?
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Caro aluno: antes de você seguir a leitura desta aula, tente responder às seguintes perguntas:
O que você entende por “pós-moderno”?
Em que circunstâncias você já ouviu a expressão “pós-modernidade”?
Pare e pense um pouco, pesquise na internet ou em livros de arte, filosofia ou história, discuta com colegas se for possível, em seguida veja se o que você pensou a respeito relaciona-se com as considerações que serão feitas a seguir.
Considerações sobre o termo "pós-modernidade" na cultura ocidental
Para iniciar nossa aula, é de fundamental importância que trabalhemos com um conceito ou uma noção segura do termo Pós-modernidade. Paradoxalmente, é difícil “bater o martelo” e afirmar que o termo em questão signifique algo estável entre os estudiosos.
As duas últimas décadas vêm produzindo discussões acaloradas sobre o assunto; porém, o máximo a que se chegou foi a um depósito de conceitos duvidosos, imprecisos e frágeis.
O termo teve origem nos Estados Unidos e veio da área da sociologia e, de lá, passou para a arquitetura, artes plásticas, filosofia e, inevitavelmente, para a literatura. A primeira “confusão” já pode ser percebida quando se põe lado a lado Pós-modernidade e Pós-modernismo. Ambos os termos não podem ser confundidos porque apontam para direções contrárias.
O primeiro diz respeito a tudo que ocorreu depois das conhecidas vanguardas européias (futurismo, cubismo, surrealismo etc); já o segundo, ao contrário, tenta compreender o que se passa com o mundo das artes e das ciências (ou seja, com o mundo dos homens de hoje). Essa preocupação começou, mas ou menos, a partir da segunda metade do século XIX e se estende até os dias atuais.
Observação
A segunda “confusão” (no bom sentido, aqui) diz respeito ao prefixo “Pós”. Ora, quando se afirma que estamos na Pós-modernidade, é porque, de algum modo, a Modernidade já ficou para trás, já acabou.
Essa noção fica mais embaralhada ainda quando se dá a notícia de que, para a filosofia pós-moderna, uma das premissas de fundamental importância é a negação do tempo sucessivo e teleológico.
Marcos da era pós-moderna
Acontece que, ao se tentar teorizar e estabelecer marcos para o início da era pós-moderna, está-se, paradoxalmente, trabalhando como uma noção muito preliminar de tempo e de sucessão. Para complicar mais ainda, há teóricos que ponderam as idéias daqueles que pesquisam o pós-moderno chamando a atenção para o fato de que a modernidade ainda não acabou; ou seja: ainda estamos num período de execução dos projetos que marcaram o início do século XX. Como se percebe, há aí uma assimetria generalizada.
Entretanto, mesmo havendo uma chuva de conceitos, pré-conceitos e pseudo-conceitos (aqui não citamos nenhum deles, embora existam) sobre a noção de pós-modernidade, é possível elencar uma série de características notáveis na arquitetura, na sociologia, nas artes plásticas, na filosofia e, também, na literatura.

A pesquisadora brasileira Leyla Perrone-Moisés, em seu interessante livro Altas Literaturas, afirma: “De um modo geral, os traços considerados pós-modernos são os seguintes:
heterogeneidade, diferença, fragmentação, indeterminação, relativismo, desconfianças nos discursos universais, dos metarrelatos totalizantes (identificados como totalitários), abandono das utopias artísticas e políticas.
Esses traços se opõem aos da modernidade, que seriam: racionalismo, positivismo, tecnocentrismo, logocentrismo, crença no progresso linear, nas verdades absolutas, nas instituições”.
Observação
Por incrível que pareça (mesmo tendo apresentado uma série de características que, de algum modo, resolveriam a discussão sobre o que vem a ser a Pós-modernidade) ainda andamos “às cegas” no que diz respeito à nossa atual identidade cultural.
Estudiosos de várias áreas do conhecimento buscam respostas mais significativas, conceitos mais seguros e confiáveis; mas parece que ainda estamos longe de mapear todo esse novo estado de espírito e de vida do homem dos dias atuais (moderno, pós-moderno ou contemporâneo?). Eis o que fica: a inquietação.
Multimídia: Vídeo
Veja uma parte da entrevista do escritor Afonso Romano Santana (Clique aqui para visualizar) e fique atento ao que ele fala sobre a pós-modernidade.

Fórum
Anote as principais idéias sobre pós-modernidade, tanto da entrevista quanto do texto desta aula, e exponha suas idéias no fórum “Aula 5 - Modernidade em ruínas”. Espera-se que você dê sua opinião sobre o assunto e comente opiniões de seus colegas.

Teoria da Literatura
Aula 5 - O pensamento Pós-Modernona Literatura
Tópico 2: O pensamento filosófico pós-moderno
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Tendências da filosofia contemporânea
Descartes e Hegel
No âmbito do pensamento filosófico, a chamada “pós-modernidade” pode ser entendida como o momento de crise da racionalidade que servia de base à filosofia moderna, em seus três pilares: a consciência, a sistematicidade e a universalidade. Pilares cujas bases foram lançadas já por Descartes — com a idéia do Cogito, e que ganharam forma acabada com o pensamento absoluto de Hegel. Em seus pressupostos está a crença nos poderes ilimitados da razão para o conhecimento e liberdade humanas.
O que podemos chamar da crise da modernidade surge na forma de uma crítica radical a seus pressupostos. De formas distintas e sob aspectos diversos, podemos dizer que essa crise foi irradiada a partir de quatro pontos, na passagem do séc. XIX ao séc. XX. Nesses três pontos, podermos situar Nietzsche, Wittgenstein e Heidegger.

Nietzsche
Centrando suas suspeitas nas questões de sentido e valor, Nietzsche realiza uma crítica contundente à modernidade a partir da moral e da racionalidade que a constitui.
Para o autor, a modernidade é considerada o ápice de uma decadência que se arrasta desde Sócrates e que, privilegiando o conhecimento racional aos instintos, destrói valores e ilusões em nome de uma suposta “verdade” e é, no entanto, incapaz de criar novos valores e reconhecer essa “verdade” como uma ilusão a mais.
Wittgenstein
O pensamento de Wittgenstein, por sua vez, está no centro da chamada “reviravolta lingüística e pragmática” do século XX. Esta significou a descoberta da linguagem (discurso) como mediação ineliminável de todo saber humano.
Não se trata de uma disciplina (Filosofia da Linguagem) ao lado de outras, mas sim da abordagem da linguagem como condição de acesso à realidade. Por outro lado, essa mesma reviravolta dá, também com Wittgenstein, uma guinada pragmática. Com ela, toda ação humana, bem como a própria constituição de si, é mediada por uma práxis lingüística, ou pelo que Wittgenstein chama de “jogos de linguagem”.
Heidegger
Heidegger fez uma crítica ao pensamento metafísico da tradição filosófica, ou seja, o pensamento que busca entender o Ser. Para o autor, esse “Ser” é fundamentalmente Sentido.
O homem, por sua vez, deve ser entendido como ‘clareira’ do ser, ente privilegiado onde o Ser se desvela, manifesta-se. A compreensão é um modo de ser do homem, ou seja, o homem se conhece como imerso em um contexto de sentido e com um esquema ‘pré-conceitual’ já introjetado.
O homem articula sentido (faz associações), um sentido que já o possui e possibilita compreensão. Gadamer, a partir de Heidegger, assume a temporalidade do ser humano e da Razão que é por ele constituída.
A Razão não é mais una, como prescrevia a metafísica da tradição, mas histórica, referentes aos diversos contextos histórico-contingenciais.
Jürgen Habermas
Tal situação de crise, no entanto, não gera consenso sobre o fim da modernidade (Vattimo, 1996) e a passagem à “pós-modernidade”. Em 1980, Jürgen Habermas profere um discurso intitulado “Modernidade: um projeto inacabado”, onde se posiciona a favor de alguns aspectos principais da modernidade por compreendê-los como inconclusos. “O projeto da modernidade tinha ainda que ser realizado. Mas a tentativa cabal de negá-lo — uma decisão desesperada, havia fracassado” (Anderson, 1999:45). Para Habermas, não se podia negar todas as contribuições da modernidade, inclusive aquelas relativas às esferas de valor e a necessidade do consenso que serão resgatadas posteriormente em seu pensamento — a Teoria da Ação Comunicativa.
Vattimo e Lyotard
Por outro lado, para autores como Vattimo (1996) e Lyotard (1993), o fim da modernidade representa o fim das metanarrativas e das pretensões universalizantes da razão, privilegiando as pequenas narrativas que priorizem o dissenso, sem que com isso enveredemos em um irracionalismo.
Atividade de portfólio
Com base no tópico acima e no artigo As Razões da pós-modernidade (Clique no título para abrir ou vá a Material de Apoio) (2001) de L Chevitarese, procure responder às seguintes perguntas:
Pós-modernidade significa “irracionalismo”? Discuta.
O que significa o “fim das metanarrativas”? Discuta.
Elabore respostas para as questões acima e apresente-as em seu portfolio.

Teoria da Literatura
Aula 5 - O pensamento Pós-Modernona Literatura
Tópico 3: A literatura na pós-modernidade
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Tendências da literatura na contemporaneidade
Ao se analisarem certos textos recentes da literatura brasileira, assim como de outras literaturas, do período denominado “pós-modernismo” (termo carregado de imprecisão), é possível perceber elementos comuns que parecem caracterizar determinados discursos literários do final do século XX e do início do XXI.

1. multiplicidade de enunciadores: o narrador ou eu-lírico único e inquestionável passa a ser substituído ou replicado por outra, ou outras vozes, que fazem do relato um texto sem um dono que lhe confira autoridade;
2. instabilidade e desautorização do enunciador: a autoridade do narrador/eu-poético tradicional passa a ser colocada em questão na medida em que outras vozes se interpõem ou rebatem a voz “central”, ou a que deveria ser o centro, que não há mais;
3. insolubilidade, ou ausência de desfecho: a complicação, o clímax e o desenlace clássicos não mais constituem o apelo da narrativa; a lírica ressente-se de uma direção estabelecida;
4. desmaterialização da trama narrativa: não há propriamente uma trama, no sentido tradicional; os acontecimentos não apresentam obrigatoriamente uma relação de causa e efeito entre eles; as estruturas são corroídas internamente por fatias, vazios, parecendo fadadas à auto-destruição, ao despedaçamento;
5. indefinição entre real e ficção: transmutação contínua do real em irreal e do irreal em real;
6. variação de escala, desmesura, tendência ao “menos”: desproporcionalidade entre as partes de um texto, ou excessiva miniaturização da narrativa, ou expansão da lírica;
7. instabilidade e tensão enunciativa: não há mais um condutor confiável da trama ou do universo poético: ele dá voltas, mostra-se indeciso, não sabe muitas vezes para onde ir;
8. forma ditada pela lógica interna da obra: as formas tradicionais da narrativa, como também da lírica, parecem definitivamente abandonadas; o que define a forma é o próprio texto; assim, cada obra é em si uma forma mais ou menos original;
9. interferência de outros sistema semióticos: intensifica-se o diálogo da literatura com outras linguagens, particularmente na poesia;
10. revelação dos bastidores da escrita: intensificação da metalinguagem, problematização direta do processo criativo.
Assim, na narrativa e na lírica, podem-se constatar os seguintes traços que aparecem com uma certa insistência:
Considerando-se essa tendência geral de errância e dispersão, percebe-se que a História perde seu poder ordenador ou organizador do texto literário, que passa a recusar o tempo progressivo e teleológico. O discurso literário que atua ao lado da História nesse sentido deve ser entendido como o discurso universal, dos metarrelatos totalizantes (ou “totalitários”), das utopias políticas ou artísticas.
O indeferimento da História coloca em sua ausência a heterogeneidade, a diferença ─ ou a indiferença ─, a fragmentação, a indeterminação, o relativismo. Enquanto a modernidade procurava estabelecer projetos para o homem e sua episteme, em busca de progresso linear, verdades absolutas, instituições duradouras, a contemporaneidade vê pulverizarem-se quaisquer tipos de projetos totalizantes.
Parada obrigatória
Vamos retomar aqui uma leitura que você já fez no Tópico 1 da Aula 3 da disciplina Teoria da Literatura I, que você fez no semestre passado. Você vai reler o conto “Cães, marinheiros” (Clique no título para abrir ou vá a material de apoio), do escritor português de Herbert Helder. O texto foi publicado no livro Os passos em volta, mas pode ser encontrado também no seguinte endereço: http://silencio.weblog.com.pt/arquivo/021857.html

Chat
Releia agora o mesmo trecho do conto que serviu como ponto de partida daquela atividade:
“Um marinheiro é uma criatura derivada por sufixação, e pode recear-se o poder do elemento de base: o radical mar. Em vez de guardar o jardim, ele acabaria por fugir para o mar”.
A proposta é que você faça seus comentários sobre o conto relacionando-o às tendências da literatura contemporânea vistas nesta aula. Imagine que o marinheiro é alegoria da literatura contemporânea, e que os cães representam o sistema que sufoca a liberdade de criação.
As observações derivadas de sua leitura deverão ser levadas ao chat que o tutor de sua turma vai marcar no período previsto na agenda.
Topo

O fato é que sempre houve um diálogo entre filosofia e literatura, por mais que esta se afirme como um descompromisso em relação às verdades do mundo, e aquela busque exatamente essa verdade.
Um exemplo disso é Michel Foucault, que desenvolveu seu pensamento filosófico sobre a loucura, o poder, a sexualidade fundamentando-se em boa parte no texto literário. Nesta aula, ao relacionarmos o pensamento contemporâneo da literatura com o da filosofia, procuramos evidenciar a proximidade dessas duas manifestações escriturais, embora ambas tenham funções e objetivos diferentes, cujo aprofundamento não cabe aqui.

Atividade de portfólio
Após todos os textos que você leu sobre este assunto, as discussões realizadas, as respostas dadas, propomos aqui que você exercite sua autonomia. Pesquise numa biblioteca ou na internet sobre a contemporaneidade na literatura ou na filosofia, e escolha um texto (um ensaio ou um capítulo de um livro). Leia-o atentamente e em seguida comente sua abordagem do texto literário ou filosófico contemporâneo, relacionando-o com o que você aprendeu nesta aula.
Produza um texto de aproximadamente uma página e coloque-o em seu portfólio. Não se esqueça de citar minuciosamente a bibliografia e quaisquer outras referências.

Bibliografia sugerida
· ANDERSON, Perry. As Origens da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
· CAMPOS, Haroldo de. Metalinguagem e outras metas. São Paulo: Perspectiva, 1999.
· COMPAGNON, Antoine. Os cinco paradoxos da modernidade. Belo Horizonte: UFMG, 1999.
· __________ . O demônio da teoria. Belo Horizonte: UFMG, 1999.
· FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Ed. Loyola, 2002.
· __________ . As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
· HARVEY, David. Condição pós-moderna. 9ª. Ed. São Paulo: Loyola, 1992.
· JAMESON, Fredric. Pós-modernismo – A lógica cultural do capitalismo tardio. 2ª. São Paulo: Ática, 1997.
· LYOTARD, Jean-François. O Pós-moderno. 4ª. Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1993.
· MACHADO, Roberto. Foucault, a filosofia e a literatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000.
· OLIVEIRA, Manfredo. A. Para Além da fragmentação. Loyola, 1997.
· __________________. A Reviravolta lingüístico-pragmática na filosofia contemporânea. 2ª. Ed. Loyola, 2001.
· PERRONE-MOISÉS, Leyla. Altas literaturas. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
· ROUANET, Sérgio Paulo. As Razões do iluminismo. São Paulo: Cia. Das Letras, 2004.
· SONTAG, Susan. A vontade radical. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
· VALÉRY, Paul. Variedades. São Paulo: Iluminuras, 1999.
· VATTIMO. O Fim da modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
Topo

Tuesday, February 12, 2008

LITERATURA BRASILEIRA III – POEMAS
Prof. Cid Ottoni Bylaardt



O MARTÍRIO DO ARTISTA (Augusto dos Anjos)

Arte ingrata! E conquanto, em desalento,
A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda,
Busac exteriorizar o pensamento
Que em suas frontais células guarda!

Tarda-lhe a Idéia! A inspiração lhe tarda!
E ei-lo a temer, rasga o papel, violent,
Como o soldado que rasgou a farad
No desespero do ultimo momento!

Tenta chorar e os olhos sente enxutos!...
É como o paralítico que, à míngua
Da própria voz, e na que ardente o lavra

Febre de em vão falar, os dedos brutos
Para falar, puxa e repuxa a lingua,
E não lhe vem à boca uma palavra!



VENCEDOR (Augusto dos Anjos)

Toma as espadas rútilas, guerreiro,
E à rutilância das espadas, toma
A espada de aço, o gládio de aço, e doma:
Meu coração ─ estranho carniceiro!

Não podes?! Chama então presto o primeiro
E o mais possante gladiador de Roma.
E qual mais pronto, e qual mais presto assoma,
Nenhum pode domar o prisioneiro.

Meu coração triunfava nas arenas.
Veio depois um domador de hienas
E outro mais, e, por fim, veio um atleta,

Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem
E não pode domá-lo, enfim, ninguém,
Que ninguém doma um coração de poeta!



EUROPA, FRANÇA E BAHIA (C.D.A.)

Meus olhos brasileiros sonhando exotismos.
Paris. A torre Eiffel alastrada de antenas como um
[caranguejo.
Os cais bolorentos de livros judeus
e a água suja do Sena escorrendo sabedoria.

O pulo da Mancha num segundo.
Meus olhos espiam olhos ingleses vigilantes
[nas docas.
Tarifas bancos fábricas trustes craques.
Milhões de dorsos agachados em colônias
[longínquas formam um tapete para
[sua Graciosa Majestade Britânica pisar.
E a lua de Londres como um remorso.

Submarinos inúteis retalham mares vencidos.
O navio alemão cauteloso exporta dolicocéfalos
[arruinados.
Hamburgo, embigo do mundo.
Homens de cabeça rachada cismam em rachar a
[cabeça dos outros dentro de alguns anos.
A Itália explora conscienciosamente vulcões
[apagados,
vulcões que nunca estiveram acesos
a não ser na cabeça de Mussolini.
E a Suíça cândida se oferece
numa coleção de postais de altitudes altíssimas.

Meus olhos brasileiros se enjoam da Europa.

Não há mais Turquia.
O impossível dos serralhos esfacela erotismos
[prestes a declanchar.
Mas a Rússia tem as cores da vida.
A Rússia é vermelha e branca.
Sujeitos com um brilho esquisito nos olhos criam
[o filme bolchevista e no túmulo
[de Lenin em Moscou parece que um
[coração enorme está batendo, batendo
mas não bate igual ao da gente...

Chega!
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Minha boca procura a ‘‘Canção do Exílio’’.
Como era mesmo a “Canção do Exílio”?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
onde canta o sabiá!



ODE AO BURGUÊS (M.A.)

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros!
que vivem dentro de muros sem pulos;
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi!
Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano!
─ Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
─ Um colar... — Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!”

Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte a infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burguês!...



POESIA (C.D.A)

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.



CORTE TRANSVERSAL DO POEMA (M.M.)

A música do espaço pára, a noite se divide
[em dois pedaços.
Uma menina grande, morena, que andava
[na minha cabeça,
fica com um braço de fora.
Alguém anda a construir uma escada
[pros meus sonhos.
Um anjo cinzento bate as asas
em torno da lâmpada.
Meu pensamento desloca uma perna,
o ouvido esquerdo do céu não ouve a queixa
[ dos namorados.
Eu sou o olho dum marinheiro morto na India,
um olho andando, com duas pernas.
O sexo da vizinha espera a noite se dilatar, a força
[do homem.
A outra metade da noite foge do mundo, empinando os seios.
Só tenho o outro lado da energia,
me dissolvem no tempo que virá,
não me lembro mais quem sou.







POÉTICA (M.B.)

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo
[e manifestações de apreço ao Sr. diretor
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
[o cunho vernáculo de um vocábulo

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
[exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras
[de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

─ Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.




CANTIGA DE VIÚVO (C.D.A.)

A noite caiu na minh’alma,
fiquei triste sem querer.
Uma sombra veio vindo,
veio vindo, me abraçou.
Era a sombra de meu bem
que morreu há tanto tempo.

Me abraçou com tanto amor
me apertou com tanto fogo
me beijou, me consolou.

Depois riu devagarinho,
me disse adeus com a cabeça
e saiu. Fechou a porta.
Ouvi seus passos na escada.
Depois mais nada.



VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA (M.B.)

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.



NO MEIO DO CAMINHO (C.D.A.)

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.







CANTIGAS (Jorge de Lima)

As cantigas lavam a roupa das lavadeiras.
As cantigas são tão bonitas, que as lavadeiras
ficam tão tristes, tão pensativas!

As cantigas tangem os bois dos boiadeiros! 
Os bois são morosos, a carga é tão grande!
O caminho é tão comprido que não tem fim.
As cantigas são leves...
E as cantigas levam os bois, batem a roupa
das lavadeiras.

As almas negras pesam tanto, são
tão sujas como a roupa, tão pesadas
como os bois...
As cantigas são tão boas...
Lavam as almas dos pecadores!
Levam as almas dos pecadores!

E aquelas mãozinhas
dormiam unidinhas
qual João mais Maria.

“Dedo-mindinho,
Sêo vizinho,
o Pai-de-todos,
Sêo Fura-bolos,
Cata-piolhos,
quede o toicinho?
 o gato comeu.”

Nas noites de lua
cheinhas de estrelas,
Sêo Fura-bolos
contava as estrelas...
O Pai-de-todos
cuidava dos outros:
nasciam berrugas
no Cata-piolhos.

E aquelas mãozinhas
viviam sujinhas
qual João mais Maria...

Um dia (que dia!)
o Dedo-mindinho
feriu-se num espinho...
E à boca da noite
o Cata-piolhos deixou de rezar;

e João mais Maria, juntinhos
ligados,
pararam em cruz
cobertos de fitas
que nem dois bonecos
sem molas, quebrados...

Quem compra um boneco da loja de Deus?




ESSA NEGRA FULÔ (Jorge de Lima)

Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha
chamada negra Fulô.

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
 Vai forrar a minha cama,
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!

Essa negra Fulô!

Essa negrinha Fulô
ficou logo pra mucama,
para vigiar a Sinhá,
pra engomar pro Sinhô!

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô!
Vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô!

Vem coçar minha coceira,
vem me catar cafuné,
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô!

Essa negra Fulô!

“Era um dia uma princesa
que vivia num castelo
que possuía um vestido
com os peixinhos do mar.
Entrou na perna dum pato
saiu na perna dum pinto
o Rei-Sinhô me mandou
que vos contasse mais cinco.”

Essa negra Fulô!

Ó Fulô? Ó Fulô?
Vai botar para dormir
esses meninos, fulô!
“Minha mãe me penteou
minha madrasta me enterrou
pelos figos da figueira
que o sabiá beliscou.”

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Fulô? Ó Fulô?
(Era a fala da Sinhá
chamando a negra Fulô.)
Cadê meu frasco de cheiro
que teu Sinhô me mandou?

 Ah! Foi você que roubou!
Ah! Foi você que roubou!

O Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa.

O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô.)

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô? Ó Fulô?
Cadê meu lenço de rendas,
cadê meu cinto, meu broche,
cadê meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?
Ah! Foi você que roubou.
Ah! Foi você que roubou.

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

O Sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dele pulou
nuinha a negra Fulô.

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô? Ó Fulô?
Cadê, cadê teu Sinhô
que nosso Senhor me mandou?
Ah! Foi você que roubou,
foi você, negra fulô?

Essa negra Fulô!